Nos Eixos #2 — Precisamos de uma alternativa ao Twitter
A segunda edição da Nos Eixos, a newsletter de tecnologia e entretenimento do Eixo XYZ.
Oi, aqui é o Victor e esta é a segunda edição da newsletter Nos Eixos. Esta semana comento sobre algumas das principais notícias dos últimos dias, incluindo os próximos lançamentos da Apple e a chegada dos dobráveis da Oppo, dedico um bom tempo para discutir a necessidade de uma alternativa ao Twitter e te recomendo um artigo para ler, uma série para ver e um álbum para ouvir.
Na edição anterior: comentários sobre os indicados ao Globo de Ouro e os ganhadores do The Game Awards, uma conversa sobre o presente e futuro de dispositivos dobráveis e recomendações para ler Aniquilação, ver Tales From The Loop e ouvir o novo álbum de Warhaus.
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Eixo X: Algumas notícias da semana.
Foi uma semana apática e confesso não ter dado a atenção devida para a Nos Eixos como deveria. Ainda estou me habituando a ter uma newsletter e tenho que descobrir como me organizar para evitar deixar tudo para a última hora. Assim, vou ser extremamente sucinto neste Eixo X para que possamos debater o grande destaque da semana no Eixo Y: o Twitter.
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A Apple prepara seus lançamentos para o próximo ano, e parece que 2023 será mais interessante para a marca que este ano. Além dos aguardados MacBook Pro de 14” e 16” com novos chips M2 Pro e M2 Max e do esperado Mac Mini com M2 e M2 Pro, a empresa pode lançar um novo MacBook Air de 15” (superando o atual de 13,6”) nos próximos meses mantendo o visual da versão redesenhada com entalhe no alto da tela, mas se aproveitando do corpo maior para mais bateria.
O jornalista Mark Gurman disse em sua newsletter que a Apple desistiu do M2 Extreme, seu poderoso chip que seria a fusão de quatro processadores M2 Max. Sendo assim, o muito aguardado Mac Pro deve adotar o chip M2 Ultra (fusão de dois processadores M2 Max), sucessor direto do M1 Ultra utilizado exclusivamente Mac Studio.
Gurman também destaca outros lançamentos para 2023: um iMac Pro pode chegar com alto desempenho e tela maior com qualidade superior ao do iMac de 24”, mas enfrenta problemas de produção e custo elevado. A empresa também pode anunciar uma alternativa ao Studio Display e um sucessor do Pro Display XDR, ambos com processador da Apple.
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A Oppo anunciou dois celulares dobráveis para apimentar o segmento e mostrar que não é só a Samsung que possui capacidade de criar ótimos foldables. Temos o quase perfeito Find N2 (por causa do tamanho compacto) e o mais barato Find N2 Flip.
Só o que falta em ambos os modelos é a proteção contra água para maior durabilidade, mas já são suficientes para competir contra o Z Fold 4 e Z Flip 4 da Samsung. O Find N2 Flip será um concorrente digno, já que será vendido fora da China, mas infelizmente o compacto Find N2 com altura de iPhone 13 mini e tela para fácil uso com uma mão seguirá exclusivo para o mercado chinês (como se eu tivesse capacidade de comprá-lo).
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E mais:
Finalmente tivemos um pequeno vislumbre da maravilha que será o filme da Barbie.
A sonda InSight da NASA está ficando sem bateria e fez um tweet em tom de despedida com sua possível última foto capturada.
Dobráveis não são tão caros para produzir como esperado e garantem altíssimo lucro para as empresas.
No governo Lula, a privatização dos Correios não vai acontecer, e uma de suas principais promessas do mandato já está garantida: o auxílio de R$ 600 será mantido para a população em vulnerabilidade socieconômica.
A autora de Harry Potter e de tweets transfóbicos voltou a propagar sua transfobia explícita no Twitter a poucos meses de Hogwarts Legacy, um dos maiores e mais aguardados jogos dentro da saga. Enquanto muitos estão decididos a comprar o game, sigo com duas opiniões: baixe por meios alternativos ou simplesmente não compre. Não financie a transfobia.
Eixo Y: Precisamos de uma alternativa ao Twitter.
Desde que o Elon Musk comprou o Twitter por US$ 44 bilhões (já que não conseguiu voltar atrás na decisão), a rede social não para de ficar pior. A cada semana dezenas de notícias exaustivas surgem reforçando mais um absurdo do bilionário mimado que nasceu em berço de ouro (ou esmeraldas, já que seu pai era dono de uma).
Só no último domingo a conta de suporte do Twitter confirmou que iria banir contas criadas para promover outras redes sociais e proibir links que direcionassem o usuário para sete plataformas concorrentes: Facebook, Instagram, Mastodon, Truth Social, Tribel, Nostr e Post.
Menos de 12 horas depois, a decisão foi completamente revertida, a publicação original foi apagada e nada mais foi dito sobre o assunto.
Para atrair mais atenção que o necessário (já que aparentemente tudo precisa girar ao redor dele), Musk disse que “haverá uma votação para todas as grandes mudanças de política” do Twitter, e em seguida publicou uma enquete questionando se ele deveria deixar o cargo de CEO do Twitter afirmando que respeitaria o resultado. Quase dois dias após o fim da pesquisa, o bilionário ainda não tocou no assunto.
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Precisamos de uma alternativa ao Twitter. Ainda enquanto iniciava a escrita desta edição considerei a frase acima como uma pergunta, não uma afirmação. No momento me questionava: será que precisamos de mais uma rede social nos moldes do Twitter? Não podemos deixá-lo morrer para finalmente ter uma plataforma a menos, não uma a mais? Para quê mais redes sociais?
Bom, tenho as respostas para as perguntas na minha mente, mas sou um único indivíduo e há milhares de pessoas que gostam do Twitter e estariam dispostas a deixá-lo por algo como era antes da Aquisição. Então sim, precisamos de uma alternativa. Mas ela virá? Quem poderá cria-la? Onde o Twitter precisa chegar para que de fato possamos abandona-lo?
O criador do Twitter, Jack Dorsey, em um interessante texto publicado no Revue (a excelente plataforma de newsletter criada pelo Twitter que será encerrada por Elon Musk nos próximos dias), destaca que seu maior erro foi criar ferramentas para o Twitter gerenciar a conversa pública em vez de criar ferramentas para as pessoas gerenciarem suas próprias conversas, além de defender que o conteúdo postado não deveria ser deletado por governos ou redes sociais, só pelo próprio usuário, e que a moderação de conteúdo global não pode existir em um sistema centralizado em um único pais.
Jack está desenvolvendo uma nova plataforma decentralizada que almeja a “internet social”. A Bluesky não tem previsão de lançamento, mas dada a urgência de uma alternativa ao Twitter, torcemos que sua chegada, mesmo em estágio beta, aconteça no próximo ano e possa esclarecer detalhes relacionados à política e gerenciamento de conteúdo dos usuários. Muito provavelmente a Bluesky deve herdar os pensamentos atuais do Jack — citados no parágrafo acima.
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Mas de onde sairia uma alternativa? O Tumblr ainda é complicado de usar em comparação com o Twitter. O Reddit é ainda mais. O Mastodon então, nem se fala; embora o projeto descentralizado seja ótimo, é muito complicado criar uma simples conta e já começar a usar (ainda assim, a rede conquistou mais de 2 milhões de novos usuários ativos). Outros concorrentes diretos, como o Koo e o Hive, chegaram explodir no Brasil e nos Estados Unidos pela facilidade de acesso, mas ainda têm muito o que melhorar. Há a promessa de que o criador do Orkut está trabalhando em uma nova rede social para resgatar a “gentileza e união”, mas assim como a Bluesky, também não há previsão de lançamento.
Que tal um Twitter da Meta? As redes sociais da empresa de Mark Zuckerberg, em especial o Instagram, são conhecidas por copiar descaradamente recursos interessantes que estejam bombando em outras redes sociais. O que impediria a companhia, portanto, de lançar mais uma marca ao lado do Facebook, Instagram, Messenger e WhatsApp e, finalmente, imitar o Twitter e seu método de postagens com caracteres limitados em formato de microblog?
A empresa tem dinheiro suficiente para tirar a ideia do papel e poderia conseguir ainda mais com investidores interessados em financiá-la. Também possui recursos para moderação de conteúdo em massa, visto que o Instagram e Facebook dependem disso. Infraestrutura para garantir acesso global não seria problema.
Entretanto, quatro das cinco redes mais utilizadas em todo mundo atualmente são da empresa de Zuckerberg. E, ao menos na minha bolha de amigos e seguidores, vejo um grande desgosto pelas plataformas da empresa, seja pela propaganda em excesso, a confusa entrega de conteúdo, a obrigação de criar todo tipo de post para se manter relevante ou a já citada cópia descarada de recursos de outras redes em ascensão.
E mesmo que possa ultrapassar a barreira dos usuários, uma nova rede social da Meta poderia enfrentar problemas com governos pelos mesmos motivos citados: a dominância global. Com mais uma grande plataforma da empresa, a Meta poderia facilmente emplacar todas as suas cinco redes sociais entre as mais utilizadas no mundo. E se já é um problema atual, isso seria ainda maior.
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Então o que nos resta? Honestamente, não sei. Eu me via deixando o Twitter há muito mais tempo, mas se até agora não deixei a plataforma completamente de lado é porque tenho grandes seguidores e uma rede de pessoas que me importo muito para simplesmente deletar a conta. As alternativas atuais não são tão intuitivas quanto o Twitter, talvez precisamos de uma cópia descarada com mudanças sutis e novos recursos para diferenciar a plataforma.
Talvez o desgosto pelo Twitter diminua quando Elon Musk deixar de ser CEO (ele já disse que não ficaria por muito tempo), mas ele ainda estará no comendo da rede social e, como consequência, a plataforma será um reflexo do seu dono.
Não há alternativa ao Twitter, ao menos por enquanto. E isso é muito triste, além de preocupante. Estamos reféns de um bilionário mimado, incel e egocêntrico cujos valores pessoais são absolutamente deturpados. E parece que precisaremos conviver com isso por mais algum tempo.
Eixo Z: Para ler, ver e ouvir.
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Para ler: The Year of the Nepo Baby, por Nate Jones.
Faltando menos de duas semanas para o fim do ano, o escritor sênior da Vulture, Nate Jones, revela uma das matérias mais interessantes dos últimos tempos no meio de entretenimento e cultura pop: The Year of the Nepo Baby. Nela, a autor expõe os filhos de famosos e grandes figuras de Hollywood que, por serem filhos os netos de quem são, ganharam com muita facilidade um papel em produções ou até mesmo chegaram a dirigir suas próprias — mesmo lhes faltando o mínimo de talento ou carisma.
A matéria é em inglês, mas é divertida, repleta de ironia e bem curiosa, traçando caminho até mesmo para o primeiro nepo-baby da indústria, nos anos 1920. Provavelmente algum tiktoker ou youtuber pode ter resumido a matéria ou falado sobre isso em algum vídeo nas redes.
Mesmo que muitos de nós tenhamos noção de como o nepotismo é real nesta indústria, o artigo deixa isso ainda mais escancarado, como escreve Jones ainda no começo e dá o tom do texto: “todo mundo é filho de alguém, mas era como se todo mundo fosse filho de alguém”.
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Para ver: Andor (2022-), no Disney+.
Como não vi nada de interessante o suficiente nessa última semana, recomendo então uma das melhores séries do ano: Andor. Ambientada no universo de Star Wars, esta é uma série para quem ama, para quem gosta e até mesmo para quem não gosta da saga.
Para mim, ao lado de Ruptura do Apple TV+, Andor é o que existe de melhor em direção e narrativa. Entrega detalhes técnicos impecáveis com fotografia impressionante, efeitos visuais excelentes e uso de maquiagem e efeitos práticos de ponta. Mas também possui um texto afiado, personagens extremamente carismáticos e uma progressão impressionante do começo ao fim que divide a série em vários arcos durante seus ótimos 12 episódios.
A série é derivada de Rogue One: Uma História Star Wars, que por si só já era uma produção derivada da saga de filmes originais, e acredito que por isso muitas pessoas estavam descrentes de que teria uma boa história para contar, especialmente depois da morna série do Obi-Wan e da desinteressante série do Bobba Fett.
E diferente destas duas, e acredito que diferente de tudo que estreou de Star Wars até então, Andor abandona o lado cômico e infanto-juvenil para abraçar uma carga adulta, preocupada com revoluções e com um peso ainda maior que o heroísmo clichê visto nos filmes. Isso acontece porque estamos vendo personagens comuns e extremamente reais.
Não existe mocinho aqui. O próprio Andor, já nos primeiros minutos da série, prova que é um assassino e a série não tenta omitir, escondeu ou maquiar isso. Ela deixa claro que este é o personagem, e entre muitas outras coisas foi isso que me cativou na série.
Para mim, a série supera não apenas o excelente filme de Rogue One (que é meu favorito de todos os Star Wars), como também entrega uma história que não necessita de conhecimento prévio do universo onde ele acontece, já que tudo é contextualizado e revelado no momento certo.
Andor é uma série para quem gosta e não gosta de Star Wars. Sem Jedi, sem sabres de luz, sem fan service (entregar aquilo que os fãs querem), com uma história emocionante repleta de reviravoltas interessantíssimas, ótima trama política, elenco excelente (a Fiona Shaw e o Andy Serkis vão te fazer arrepiar), roteiro afiadíssimo que me fez elogiar semana após semana no Twitter e um final de temporada extremamente recompensador.
Já me deparei com o pensamento de que Andor nem parece ser Star Wars, mas na verdade Star Wars deixou de parecer Star Wars a cada nova trilogia, a cada nova década. Andor resgata o que há de melhor na trilogia original, e se aprofunda ainda mais em temas importantes por não precisar se limitar a uma faixa etária. Andor é o que Star Wars deveria ser daqui para frente.
Recomendo o review da Isabela Boscov com o Roberto Sadovski e, quando for assistir, acompanhar os vídeos do Diário Rebelde após cada episódio.
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Para ouvir: Ivory de Omar Apollo (2022)
Conheci Omar Apollo pelo Apolonio de 2020, seu curto terceiro álbum de estúdio com 26 minutos de duração. Desde então me tornei fã do cantor nascido nos Estados Unidos e que leva suas origens mexicanas para a música de forma muito natural.
Inclusive, naturalidade é uma excelente forma de descrever a música de Omar Apollo. Não é extravagante, não é forçada e não busca atingir o topo dos charts com letras fabricadas e batidas genéricas. É intimista, é confortável, muitas vezes sedutora, além de acompanhar um frescor de novidade diferenciada facilmente reconhecível com elementos variados que vão de R&B ao indie-pop e trap-latino, e traz em suas letras um toque de sua bissexualidade de forma natural.
Deite na cama ou no sofá, coloque seus melhores fones de ouvido, feche os olhos e aproveite a viagem que Ivory é capaz de proporcionar.
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Até a próxima semana!