Nos Eixos #3 — Que seja um ano de cura
A terceira edição da Nos Eixos, uma newsletter semanal sobre tecnologia, entretenimento e saúde mental.
Olá, aqui é o Victor! Espero que todos vocês tenham tido um excelente fim de semana e, em especial, um ótimo Natal. Nem sempre podemos estar próximos de todos que gostamos, mas só de compartilhar o momento especial com família, amigos e pessoas que gostamos (ou mesmo sozinhos, caso não faça questão da companhia de familiares) já é suficiente. Que o Natal do próximo ano possa ser ainda melhor.
Vou tirar esta última semana de 2022 para mim mesmo e aproveitar minhas rápidas férias. Por isso acredito que não teremos a edição quatro da Nos Eixos na próxima terça-feira, dia 3 de janeiro.
Ter iniciado essa newsletter foi um grande marco pessoal este ano e me sinto muito realizado. Obrigado por estar compartilhando este momento comigo. Um excelente fim de ano e até 2023.
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Eixo X: algumas notícias da semana.
Mais uma série de Avatar (a animação das pessoas que controlam elementos da natureza, não os alienígenas azuis do Cameron) está em desenvolvimento e contará a história do Avatar sucessor de Aang e Korra. Sim, isso significa que Korra está morta, mas também significa que o ciclo continuará e agora teremos um Avatar do Reino da Terra!
A história se passará aproximadamente 100 anos após os acontecimentos de Avatar: A Lenda de Korra e teremos um mundo semelhante aos nossos dias atuais (o que me deixa animadíssimo). É dito que a série deve estrear entre novembro ou dezembro de 2025.
E essa é apenas uma das várias novas séries e filmes que vão expandir o incrível universo de Avatar nos próximos anos. A Avatar Studios planeja lançar uma série e um filme por ano a partir de 2025. Assim, teremos a série do novo Avatar da Tribo da Terra e um filme para cinemas com Aang, Katara, Sokka, Toph e Zuko adultos em 2025. Sabemos que há um filme dedicado ao Zuko e outro dedicado à Avatar Kyoshi, mas ambos não possuem maiores detalhes de data.
Sem falar que ainda teremos a estreia do live action de Avatar: A Lenda de Aang produzido pela Netflix (sentimentos mistos aqui, já que a Netflix pode arruinar isso, especialmente depois que os criadores da série original deixaram a produção e foram liderar a Avatar Studios).
De qualquer forma, torço para que a série da Netflix seja fiel ao conteúdo original e tenho plena confiança na Avatar Studios para a chegada das novas séries e filmes.
A Netflix vai proibir o compartilhamento de senhas já no início de 2023, começando pelos Estados Unidos. Acredito que tenhamos algumas mudanças no comportamento de consumo a partir de janeiro, como o crescimento de séries e filmes Originais Netflix pirateados, uma pequena migração para outros serviços de streaming e uma pequena onda de cancelamentos. Se a Netflix quer fazer mais dinheiro, não vai ser assim que ela vai conseguir… A menos que a Microsoft adquira a plataforma de streaming.
A Reuters fala que o CEO da Microsoft, Satya Nadella, estaria considerando comprar a Netflix em 2023. A Microsoft tem dinheiro o suficiente para realizar a aquisição e a Netflix está desvalorizada. Nadella já desembolsou US$ 69 bilhões na compra da Activision Blizzard, então o valor do serviço de streaming poderia ser ainda maior.
O DaVinci Resolve chegou no iPad (e isso é enorme). Um dos maiores programas de edição de vídeo está disponível para tablets da Apple equipados com chips M1 e M2 completamente de graça. Agora o iPad Pro pode ficar um pouco mais profissional para criadores de conteúdo — embora o Stage Manager ainda não tenha me conquistado cem por cento e existam várias barreiras que me deixam desanimado com meu iPad Pro a ponto de considerar vendê-lo e comprar um MacBook Air com M2. Ainda pretendo fazer um review antes de substituí-lo completamente.
O Senado brasileiro finalmente proibiu o uso de animais em testes de cosméticos, e empresas terão dois anos para atualizar as pesquisas e adaptar a infraestrutura. Um importante e muito necessário avanço.
Como se não bastasse todo o caos criado por Elon Musk no fim de semana dos dias 17 e 18 de dezembro, a Reuters revela que o próprio herdeiro bilionário ordenou que funcionários removessem a funcionalidade de prevenção ao suicídio e outros recursos de segurança do Twitter. Após a publicação, a empresa afirmou que as funções estão sendo corrigidas e alteradas e por isso estavam fora do ar.
Não é de hoje que eu falo o quão tóxico é o Twitter, mas sob o comendo de Elon Musk a rede social está cada vez pior. Anúncios aleatórios, grande crescimento de contas de extrema direita entre recomendações e aquela porcaria de ícone de visualizações deixando a usabilidade ainda pior. Sigo com o que disse na edição anterior da Nos Eixos: precisamos de uma alternativa ao Twitter.
Eixo Y: que seja um ano de cura.
Não tem sido fácil viver nos últimos anos. Seja pelo peso da realidade agora que eu me tornei adulto — para me sustentar preciso trabalhar todos os dias da minha vida até que eu esteja aposentado, isso se não eu morrer antes — ou pelo contexto político, histórico e social que estamos inseridos — precisando balancear o nível de informação que recebo para não enlouquecer de vez —, tenho notado o quão estressado, ansioso e preocupado tenho estado conforme conquistei um maior entendimento do mundo ao meu redor.
As notícias são pavorosas, mas não posso ficar totalmente alheio ao que acontece dentro e fora do meu país. O capitalismo quer sugar toda a força de vontade que tenhamos em viver; consuma e seja consumido. Redes sociais exigem que você poste todos os tipos de variação de conteúdo para se manter relevante entre seus seguidores; poste mais, apareça mais. Eu não aguento mais ver tanta gente feliz. Deve ser por isso que ainda não me desfiz completamente do Twitter. E é por isso que eu desativei minha conta do Instagram mais uma vez esse ano.
No meio desse mar de pensamentos ruins dentro de uma única cabeça, ainda tivemos a chegada de um vírus letal durante uma gestão fadada ao fracasso logo nas eleições. Precisamos nos despedir precocemente daqueles que amávamos e continuamos amando, tivemos que nos isolar para evitar o contágio e ver conhecidos, amigos e familiares zombando de algo tão sério. E como se não fosse o bastante, ainda era preciso pagar as contas.
Foram anos estressantes, e quando peguei covid acho que cheguei ao fundo do poço em minha saúde física e mental. Após ter finalmente incorporado a academia à rotina diária, tudo veio a baixo quando fui infectado e passei a notar uma confusão mental gigantesca entre agosto, setembro e outubro. Tontura, náusea, desânimo, apatia, fraqueza. Nunca tinha sentido tanta coisa ruim ao mesmo tempo por tantas semanas. Então finalmente comecei a me sentir melhor e aos poucos tentei retornar à rotina do começo do ano. Até hoje ainda tento. Sem muito sucesso.
Criei alguns cenários na minha cabeça que não se realizaram. Disse para mim mesmo que, durante minhas duas semanas de férias neste fim de ano, iria para a academia durante a tarde para tentar voltar à rotina. Faz dias que nem mesmo consigo correr pela manhã. Eu sei o quão bem me sinto assim que acabo uma atividade física, é recompensador e energizante, mas ainda tem alguma coisa que me bloqueia de dar esse passo diariamente, ou no mínimo três vezes por semana. Vou tentar retornar nos próximos dias. Prometo a mim mesmo.
Este ano eu não realizei muitos sonhos, nem mesmo cheguei a projetar expectativas, sejam elas grandes ou pequenas, mas quero me permitir fazer o contrário para o próximo. Que 2023 seja melhor. Que eu possa sonhar e realizar, que eu possa viver o que a vida tem de melhor mesmo reconhecendo que não é fácil viver. E que meu eu do futuro possa ler este texto e sentir orgulho de suas realizações.
Um dos meus maiores comprometimentos ainda está de pé por três semanas consecutivas, e isso é um grande feito para mim. A publicação da Nos Eixos é um trabalho que não me dá recompensa, mas me sinto realizado ao subir as edições no dia marcado, na hora marcada, entre um desânimo ou outro.
Que todos tenhamos um excelente 2023 repleto de conquistas realizadas. Até o ano que vem.
Eixo Z: para ler, ver e ouvir.
Para ler: A Metamorfose (1915) de Franz Kafka.
Eu infelizmente perdi o hábito de ler livros e ainda estou no processo de recuperá-lo. E enquanto minha edição de janeiro da Le Monde Diplomatique Brasil está à caminho (esta provavelmente será a indicação da próxima publicação da Nos Eixos), vou ter que recomendar um clássico que muitos podem já ter lido, e recomendar também que releiam mais uma vez.
A primeira vez que tive contato com Franz Kafka com no fim do ensino fundamental com a biografia Kafka e a Marca do Corvo. Lembro da leitura fluida e excelente cadência de acontecimentos que me fez devorar o livro em um único dia e despertar o interesse pelo leitor tcheco.
Mas só muitos anos depois fui ler meu primeiro livro do autor: A Metamorfose, e acredito que eu o tenha feito no momento certo da vida, porque me conectei a ele imediatamente.
Gregor Samsa desperta certa manhã de sonhos intranquilos e encontra-se metamorfoseado em um inseto monstruoso. A partir disso, o homem agora criatura precisa se contorcer durante horas para sair da cama e procura ter o máximo de cuidado para evitar ser visto daquela forma, sem sucesso, porque seu chefe, seus pais e sua irmã são chocados com seu novo corpo.
O livro é uma das experiências mais tristes que eu tive e continuo tendo sempre que o revisito. Durante quase toda sua segunda metade não consigo conter minhas lágrimas e tudo que acontece ao Gregor Samsa parece acontecer comigo. Talvez por eu me colocar muito em seu lugar dada a empatia que criamos devido a situação absurda de tudo aquilo.
O final é devastador e me arrepio de imaginar. Há sempre os mesmos sentimentos de tristeza, revolta e alívio ao mesmo tempo, enquanto lágrimas sempre brotam dos olhos e pingam nas páginas do livro (ou na tela do Kindle).
A Metamorfose é um dos meus livros favoritos, e definitivamente preciso ler as outras obras de Kafka. Mas no momento certo, não por enquanto.
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Para ver: Devs (2020), Dir. Alex Garland. Veja no Star+.
Eu recomendo fortemente que você não saiba muito a respeito da história ou detalhes de Devs, por isso vou te poupar até mesmo da sinopse e do trailer, mas não vou te deixar completamente às cegas.
A série acompanhará a personagem da Sonaya Mizuno, Lily, quando se dá conta que seu namorado não vai retornar para casa após seu primeiro dia em Devs, uma divisão de desenvolvimento secreta dentro da Amaya, empresa de tecnologia do Vale do Silício, em San Francisco, nos Estados Unidos. Lily então se vê obrigada a investigar a Amaya, o curioso CEO da empresa e as pessoas que trabalham em Devs.
A série tem como grande foco o questionamento do livre-arbítrio. Será que nossas escolhas já estão programadas? Escolhas que fizemos afetam às de outras pessoas? Como seria se eu não tivesse feito aquilo?
O diretor consegue mesclar muito bem a tensão do desconhecido com o enigma do que acontece dentro de Devs, criando um cenário cada vez mais estranho e perturbador conforme avançamos na história, tudo isso potencializado pela inesquecível trilha sonora de Ben Salisbury — favorito de Alex Garland que já trabalhou com o diretor em todos os seus filmes — e a cinematografia impecável feita mais uma vez por Rob Hardy — o fotógrafo favorito de Garland que também trabalhou com o diretor em todos os seus filmes.
Devs é ficção científica de ponta com ótimas atuações, excelente desenvolvimento da trama, personagens marcantes, momentos que ficam grudados na memória (mesmo dois anos depois ainda consigo lembrar nitidamente diversas cenas) e o melhor: faz com que questionemos nossa realidade durante semanas.
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Para ouvir: Connecting Visitors to Fun (2020) e Safe Space (2022) de JORDANN.
Sair das indicações mais óbvias e apresentar a vocês artistas e álbuns que podem ainda não ter ouvido não é uma tarefa fácil, e olhando minha biblioteca de álbuns salvos noto que há muito tempo não ouço Connecting Visitors to Fun, o curto EP da JORDANN com seis músicas e vinte minutos de duração que me transporta para o início da pandemia da covid-19 há quase três anos.
Abraçando totalmente a estética retrô nos clipes e em suas composições, o EP mostra que há curiosidade e paixão no que a banda de quatro integrantes está fazendo, com baixos hipnotizantes, vocal etéreo, ritmos melancólicos, e sintetizadores às vezes energéticos, às vezes contemplativos.
Em entrevista à Voir, o vocalista Jordan Hérbet comenta que o álbum levou um ano e meio para ser finalizado: “acho que se você quer criar alguma forma de relevância cultura, você tem que colocar seu coração e sua alma no produto”.
Jordan também destaca o objetivo de criar um disco leve e sem exageros na sonoridade para permitir que as pessoas possam aproveitar sem pressa.
“Nas redes sociais, recebo cada vez mais mensagens de pessoas dizendo: “eu ouço algumas de suas músicas à noite quando vou dormir e isso me permite tirar um tempo, refletir sobre meu dia, sobre o que aconteceu.”
Quando eu tinha algumas poucas canções com tons totalmente diferentes era um desafio sentar e pensar durante três ou quatro minutos. Com Connecting Visitors to Fun, vamos ser capazes de fazer isso durante todos os 22 minutos.”
Em seu segundo EP, Safe Space, lançado em 2022, a banda consegue manter sua essência e mostrar o quanto avançou em sonoridade nos últimos dois anos. As músicas possuem mais camadas com letras melhor elaboradas, composições mais densas e uma sonoridade avançada com mais elementos nas faixas, seja a presença de um toque cintilante ao fundo, o uso maior de backing vocals ou de arranjos mais plurais.
As mudanças podem ser vistas também nos clipes, que também mantém a ambientação e fotografia da era anterior, mas contendo também uma maior elaboração na dançante Effective Communication, com um Jordan sem bigode ainda mais confiante, solto e menos contido, agora capaz de realizar coreografias mais complexas que as simples jogadas de ombro vistas em Café Speed.
Em ambos os discos a banda entrega o que propõe: músicas que conversam entre si em 20 minutos de pura coesão e que permitem que possamos viajar com o som ou diminuir o ritmo a qualquer momento do dia quando a vida parecer mais tumultuada.
Obrigado mais uma vez por ler a Nos Eixos! Se ainda não for inscrito, assine a newsletter e receba uma edição por semana, toda terça-feira às 10 horas da manhã, para ler quando quiser.
Até 2023. Realize seus desejos.