Nos Eixos #6 — Minha vida sem Instagram é um pouco melhor
Nesta sexta edição da Nos Eixos conto o alívio de ter removido o Instagram da minha vida, algumas notícias da semana e recomendações para você ler, ver e ouvir durante a semana.
Olá, aqui é o Victor e esta é a sexta edição da Nos Eixos. Confesso ter passado todos os últimos dias bastante desanimado com a newsletter (sem motivo nenhum), mas me recompus e hoje entrego a minha publicação favorita até agora.
Decidi me abrir para falar como minha vida sem Instagram é um pouco melhor, e ainda este ano quero escrever mais esse tipo de relato de vez em quando aqui na newsletter, algo mais íntimo e pessoal, mesmo que seja estranho de escrever.
Se a newsletter estiver grande demais para o e-mail, você sempre pode acessar a Nos Eixos pelo app do Substack no Android ou no iOS e pelo site noseixos.substack.com. Toda terça-feira, às 10 horas da manhã, para você ler quando puder.
Eixo X: Algumas notícias da semana.
A Apple deve anunciar a qualquer momento novos MacBook Pro com processador M2 Pro e M2 Max e ainda um novo Mac Mini com M2 e, quem sabe, M2 Pro. O rumor surgiu no fim de tarde de ontem. Mark Gurman adiciona que o próximo HomePod pode chegar “muito em breve”, mas não sabemos se será hoje.
Em minha linha de raciocínio, acredito que a ideia seja antecipar os lançamentos menos empolgantes e deixar espaço para a estreia do Mac Pro entre março e abril. Então, o anúncio do headset de realidade mista aconteceria em junho durante a WWDC 2023, tendo toda a atenção que merece.
Ainda sobre Apple, um AirPods Lite verdadeiramente barato (pelo menos lá fora) pode estar em desenvolvimento para custar US$ 99. Ao mesmo tempo, a empresa prepara a nova geração do caro e poderoso AirPods Max.
O iPhone 15 Pro pode abandonar botões físicos em prol de clique simulado por vibração — igual o Home Button do iPhone 7 e 8. No iPhone 16 Pro de 2024, a inovação seria levar o Face ID para baixo da tela.
O MacBook pode ganhar tela sensível ao toque por volta de 2025, finalmente mesclando iPad e Mac do jeito correto. Mas agora me pergunto: o iPad Pro ainda seria útil nessa situação?
A Samsung confirmou a data de lançamento dos novos Galaxy S23, que chegam no dia 1º de fevereiro. Serão parecidos com os modelos da série Galaxy S22, mas com chip atualizado e destaque ainda maior para fotografia, em especial para o S23 Ultra e sua nova câmera de 200 MP. Saiba o que esperar dos tops de linha.
O Twitter agora divide a linha do tempo como o TikTok: For you (o algoritmo vai te mostrar o conteúdo) e Following (o conteúdo surge em linha do tempo normal, à medida que é publicado). Diferente do TikTok, odeio a ideia porque não é assim que o Twitter foi projetado para ser, mas pelo menos ainda é possível escolher.
Quem usa o Twitter em clientes de outros desenvolvedores — como o Fenix, Twitterrific e Ivory — tem problemas desde o fim de semana, e parece que o Elon Musk não está ligando pra isso, já que ainda não falou nada a respeito do problema.
Aplicativos do Apple Music, do Apple TV e de dispositivos Apple (para sincronizar, atualizar e restaurar seu iPhone, iPad e iPod) finalmente chegaram ao Windows 11 em prévia — e só ao Windows 11.
A Netflix já cancelou quatro séries apenas em 2023. Inclusive, o PH Santos falou sobre isso há pouco tempo.
Avatar: O Caminho da Água está prestes a atingir os US$ 2 bilhões em bilheteria global. Será que tem fôlego para mais? Se dependesse de mim, com certeza.
E a Isabela Boscov anunciou seus filmes de 2022 (preciso assistir quase todos).
Eixo Y: Minha vida sem Instagram é um pouco melhor.
Minha relação com as redes sociais mudou bastante nos últimos anos. Minha visão dessas plataformas como aliadas deu lugar a uma noção mais pessimista, talvez por eu ter me tornado mais cínico durante a última década e a realidade inflexível do mundo criar uma casca de resistência contra sonhos à minha volta (será que um dia conseguirei quebrá-la?).
Lembro quando o Instagram costumava ser uma rede social muito mais simples. Você postava fotos despretensiosas, aplicava filtros toscos e bregas com tons de cor exagerados, comentava nas fotos de amigos e era basicamente isso. Quem dera continuasse sendo.
Desde que o Instagram se tornou um Monstro de Frankenstein do Mark Zuckerberg, sendo agora uma colcha de retalho repleto de ideias mirabolantes em um único aplicativo, tenho procurado usá-lo cada vez menos. E conforme os anos passavam, me dava conta de como a rede social afetava cada vez mais minha autoestima, até ficar insustentável.
Eu nunca fui uma pessoa de se achar bonita. Eram e ainda são raros os momentos que olho no espelho e gosto do que vejo, e nos últimos anos de Instagram esse pensamento se tornou pior, seja pelos corpos lindos que apareciam na linha do tempo ou nos Stories, seja pelos sorrisos largos e aparentemente felizes um atrás do outro, pelas companhias igualmente lindas em festas e bares instagramáveis ou pela minha simples falta de autoestima. Eu queria tanto ser como eles, queria tanto um rosto menos redondo, uma mandíbula pronunciada, ter estilo, ser desejado.
Mas eu me policiava muito bem. Quando notava que estes pensamentos estavam surgindo na minha cabeça eu tentava afastá-los de duas formas: desinstalando o Instagram ou desativando minha conta. A primeira opção ainda me deixava usando a rede social na web, mas ainda assim os corpos bonitos e os sorrisos largos apareciam é claro, então eu acabava por desativar minha conta de qualquer jeito.
E esses momentos eram seguidos por alívio. Alívio de não precisar tirar uma foto minha e me mostrar nos Stories — e o melhor: não me ver depois. Alívio por não ter a pressão de postar fotos bonitas da coisa mais banal possível. Alívio de não ver os corpos perfeitos enquanto eu não fazia o mínimo esforço para mudar o meu.
Eu estava empacado. Desde julho de 2022, desde que eu peguei covid, minha vida não foi a mesma. Estava indo bem no retorno à academia durante a primeira metade daquele ano, mas a sucessão de eventos da doença me fez ficar de fora por alguns dias. Depois por algumas semanas. E então por alguns meses. Até hoje ainda luto para voltar à academia nem que seja um único dia na semana e preciso trabalhar minha pequena ansiedade e desconforto que, por algum motivo, comecei a sentir como consequência da covid.
Isso foi responsável por me fazer engordar alguns quilos e por me fez sentir mais desconfortável comigo mesmo. Meu rosto parecia ainda mais redondo, então eu apelava para os filtros que mascaravam isso deixando-o mais estreito e disfarçando de um jeito ou de outro.
Com o passar do tempo deixei de postar fotos minhas, até que finalmente deixei de postar fotos. Estava querendo uma conta mais pessoal, então deixei de seguir centenas de pessoas e removi ainda mais centenas de seguidores. Removi as fotos relacionadas a tecnologia, agora era só eu e a natureza. Mas a rede social já havia perdido a graça. Não fazia sentido estar ali enquanto as mesmas questões martelavam na minha cabeça, não importava quem eu seguia ou deixava de seguir.
Então finalmente desativei o Instagram de forma mais definitiva para começar o ano um pouco mais leve e sem tanta pressão comigo mesmo. Mas ainda fica o vazio da comunicação. Ao mesmo tempo que me torturava, era divertido ver o que as pessoas estavam fazendo, onde estavam, com quem estavam. Comentar e responder as interações. Não tenho isso hoje. Tenho quase nada disso hoje. Mas acredito que seja um preço pequeno a pagar pela melhora da saúde mental.
Tenho agora um entendimento melhor do que há um ano atrás, mas ainda há um grande caminho a seguir para me entender mais. Meus problemas não acabaram quando desativei minha conta do Instagram. Queria eu que tivessem. Mas essa decisão foi responsável por melhorar meu humor, a forma com que me vejo e como lido com minha imagem. Minha vida sem Instagram é um pouco melhor, mas tem muito o que melhorar.
A verdade é sempre clichê. E uma dessas verdades clichês é que a gente está sempre em uma constante descoberta para tentar entender aquilo que somos. Então vamos tentar, de preferência com menos redes sociais.
Eixo Z: Para ler, ver e ouvir.
O Eixo Z desta semana finalmente traz o aguardado e impactante Estou Feliz que Minha Mãe Morreu, livro autobiográfico da Jannette McCurdy, além de um breve comentário a respeito da estreia de The Last of Us na HBO e meu mais novo vício, o álbum Caprisongs da FKA Twigs.
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Para ler: Estou Feliz que Minha Mãe Morreu, de Jannette McCurdy
São angustiantes os relatos de abuso contados por Jannette McCurdy em sua autobiografia lançada no ano passado. Eternizada em seu papel como Sam Pucket em iCarly, a atriz destrincha sua infância com pais acumuladores, que resultam em uma casa tumultuada repleta de móveis, roupas e itens que não deixam espaço para convivência e, por isso, ela e seus irmãos dormem em colchonetes na sala.
Sua mãe tem câncer de mama estágio quatro e não perde a oportunidade de contar sua sofrida história para qualquer pessoa — estejam elas interessadas ou não.
“Eu não criei você pra isso. O que aconteceu com a minha doce garotinha? Onde ela foi parar? E quem é esse MONSTRO que tomou o lugar dela? Você é um MONSTRO HORRENDO agora. Eu contei aos seus irmãos sobre você e todos eles disseram que a renegam como eu. Não queremos nada com você.
Com amor, Mamãe (ou DEB, já que não sou mais sua mãe).
P. S.: Envie dinheiro para comprarmos uma geladeira nova. A nossa quebrou.“
Narcisista e controladora, a mãe dava banho em Jannette até os 17 anos, decidia tudo o que sua filha comeria e, por causa disso, a filha entrou em uma espiral de transtornos alimentares com apenas 11 anos. Era constantemente criticada em cada ação. A mãe projetava em sua filha a chance de realizar os sonhos de ser atriz, magra e muito bem sucedida, e estava disposta a passar por cima de tudo para conseguir.
Janette desenvolveu uma forte bulimia após anos de anorexia e compulsão alimentar forçadas por sua mãe. Mesmo após a morte da mãe, virou alcoolista. Levaram anos até ela reconhecer seus problemas, identificar os traumas profundos e buscar um lento e dolorido tratamento.
“E daí se estraguei tudo e comi? E daí se eu falhei? E daí, porra? Tudo o que tenho de fazer é enfiar os dedos na minha garganta e observar o erro ser desfeito. Esse é o início de algo bom.”
O livro é viciante e devorei em três dias (o que é extremamente rápido para quem não estou mais acostumado a ler tanto quanto antes), mas precisei de algumas pausas prolongadas porque a leitura me deixou tonto, enojado e genuinamente irritado.
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Para ver: The Last of Us. Veja na HBO Max.
Se a estreia de Ruptura do Apple TV+ elevou as expectativas para as séries de 2022 logo no início do ano passado, a chegada de The Last of Us da HBO é responsável por repetir o feito este ano.
Em um impressionante primeiro episódio, vemos como a nova série de Craig Mazin (Chernobyl) e Neil Druckmann (criador do jogo The Last of Us) pode redefinir o que é uma adaptação de sucesso dos games. Se até então produções como Detetive Pikachu, Sonic: O Filme e Arcane eram a referência em como transportar a linguagem dos jogos para cinema e séries, The Last of Us restaura a métrica e define um objetivo ainda maior que precisará ser alcançado em futuras produções. E talvez — talvez — este objetivo nunca mais seja superado.
Tudo em The Last of Us está impecável. A ambientação é incrivelmente fiel aos tempos em que se passam, a fotografia transmite pela tela o conforto ou desconforto que os personagens sentem, a trilha sonora de Gustavo Santaolalla obviamente se mantém fiel ao que o mesmo produziu há uma década para o jogo da Sony, além dos ótimos efeitos visuais e efeitos práticos que transmitem vida e morte no mundo desolador deste futuro pós-apocalíptico. A direção e o roteiro trabalham como um só, e a atuação é um show a parte.
Pedro Pascal já nos mostrou que é possível de entregar complexidade necessária para o papel de Joel em todos os seus trabalhos anteriores, seja em Narcos da Netflix, em Game of Thrones da HBO ou The Mandalorian do Disney+. Claramente não restava dúvida que ele seria um ator competente.
Bella Ramsey logo em seu papel como a valente e corajosa Lyana Mormont em Game of Thrones (algumas temporadas depois de Pedro Pascal) também se mostrou uma estrela em potencial e, aqui, não resta dúvida: ela é a Ellie. Bella Ramsey atingiu e até superior minhas expectativas em cada pequena ação, agilidade de pensamento, medo ou obstinação que estampavam seu rosto a cada novo momento.
Nico Parker, que vive a personagem de Sarah Miller (e que é uma nepo-baby, veja só, filha de Thandiwe Newton, a Maeve de Westworld), também não decepciona e entrega uma interpretação de arrepiar. Tal como no jogo, seu papel despedaça nossos corações em uma cena fiel e muito emocionante, carregada não apenas pelo peso da circunstância levada até ali pela direção e roteiro, mas também pelo peso de ter Pedro Pascal como Joel, e o sacrifício indesejado que seu personagem foi obrigado a tomar diante da situação.
The Last of Us precisa se manter na excelência do primeiro episódio para consagrar como uma das melhores séries do ano, e eu acredito que todas as expectativas serão atendidas. Acredito que esta será uma divisora de águas entre as adaptações de jogos. Acredito que seus próximos episódios serão igualmente impecáveis. E acredito que estamos diante de uma das melhores séries de 2023.
Como não vou dar a opinião semanal por aqui (mas escrevendo sobre isso a ideia me parece interessante, nem que seja pelo menos publicar no Eixo XYZ), recomendo muito fortemente que a companhia da Isabela Boscov e do Michel Arouca no YouTube toda segunda-feira.
The Last of Us terá nove episódios. O último vai ao ar no dia 12 de março.
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Para ouvir: Caprisongs de FKA twigs.
Um ano depois do lançamento de Caprisongs, finalmente ouço o novo (ainda dá pra chamar de novo?) álbum da sempre impecável FKA twigs. E estou obcecado.
Vez ou outra ele aparecia para mim nas redes sociais no ano passado, mas nunca me atraiu o suficiente como neste fim de semana. A recomendação pipocou no Apple Music porque um colega está ouvindo e dei a chance. Me arrependeria de ter levado tanto tempo para ouvido, mas acho que foi no momento certo.
A versatilidade da twigs de cantar qualquer tipo de música é muito impressionante. Já conhecia pela performance impecável de Cellophane e por uma coisa aqui e ali, mas nunca dei a atenção devida até agora. E recomendo muito. É um álbum onde até os interlúdios não quero deixar passar e que, por algum motivo, tem me dado ânimo para voltar à academia.
Minhas favoritas: papi bones, tears in the club, honda, pamplemousse, minds of men e derjeeling.