Nos Eixos #8 — The Last of Us pode ser o próximo fenômeno global depois de Lost e Game of Thrones?
O que torna uma série um fenômeno global e o que é necessário para quebrar barreiras a nível internacional como fizeram Lost e Game of Thrones? Será que The Last of Us possui esse potencial?
Olá, aqui é o Victor! Nesta oitava edição da Nos Eixos trago um dos temas que mais tenho interesse em debater: qual série será o próximo fenômeno global após toda a inovação e sucesso estrondoso que vimos em Lost e em Game of Thrones? Fique a vontade para ler com paciência quando tiver mais tempo livre.
No Eixo X trago algumas das principais notícias da semana, no Eixo Y discorro sobre o que faz de uma série um fenômeno global e qual pode ser o próximo sucesso mundial, e no Eixo Z trago recomendações para ler, ver e ouvir em novo formato, com várias indicações em vez de apenas uma de cada.
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E boa leitura!
Algumas notícias da semana.
As vendas de The Last of Us Part 1 cresceram 238% desde a estreia da série da HBO baseada no jogo. E enquanto o segundo título pode ser dividido em duas temporadas, Neil Druckmann (criador do jogo) disse em entrevista que, se não houver motivo para a existência de uma Parte 3 com mensagem universal sobre amor como no primeiro e segundo jogos, então The Last of Us Parte 2 será a conclusão ideal.
E que terceiro episódio, ein? Ainda estou com ele grudado nas retinas de tão bem escrito e bem dirigido. Um sopro momentâneo de amor e esperança em um mundo de caos e destruição.
A Apple pode lançar um iPad dobrável no próximo ano. É o que informa (em inglês) o confiável analista Ming-Chi Kuo, indicando que o tablet terá suporte de fibra de carbono integrado. Ele diz que não devemos esperar novos iPads este ano e que o próximo modelo a ser atualizado será o iPad mini, chegando no início de 2024.
O Buzzfeed vai usar o ChatGTP para criar conteúdo. A polêmica decisão acontece após a demissão de 12% dos seus funcionários, e como o mercado odeia trabalhadores, as ações da empresa subiram quase 150%. Patético e desrespeitoso.
O próximo álbum da Pabllo Vittar chega no dia 8 de fevereiro!
Os Jonas Brothers anunciaram o novo álbum e o Joe publicou o trecho de uma das novas músicas. Ele será chamado apenas de “The Album“ e chega em 5 de maio.
Avatar: O Caminho da Água já é a quarta maior bilheteria da história e deve superar Titanic, do próprio James Cameron, na terceira posição. Mas será que o filme ainda tem fôlego para superar Vingadores: Ultimato e seus US$ 2,79 bilhões?
O Nothing Phone (2) será lançado no fim deste ano como topo de linha e foco em software, disse Carl Pei em entrevista (em inglês).
Phoebe Waller-Bridge em dose tripla: a criadora de Fleabag vai produzir e roteirizar a nova série de Tomb Raider e produzir a adaptação de Sign Here para o Prime Video. Uma terceira produção está em desenvolvimento também para a Amazon, mas detalhes ainda são desconhecidos. Ela já tinha abandonado o remake de Sr. & Sra. Smith por diferenças criativas com o Donald Glover.
A Apple continua usando o Timothée Chalamet em propagandas para o Apple TV+. A primeira foi ao ar em 20 de janeiro. Uma das minhas teorias é que isso poderia fazer parte dos novos anúncios de filmes e séries e talvez — só talvez — a empresa anuncie algo durante seu principal evento no começo deste ano (sem data).
Todos os álbuns da Rihanna agora contam com Áudio Espacial no Apple Music. Ela será a atração do primeiro Halftime Show do Super Bowl comandado pela Apple após décadas sob domínio da Pepsi. O evento acontecerá no dia 12 de fevereiro.
A Samsung anuncia amanhã os novos Galaxy S23, Galaxy Book3 e mais algumas coisas. Ainda na quarta ou na quinta você receberá minha opinião sobre os lançamentos em uma segunda edição da Nos Eixos Extra, já que deixar para a próxima semana seria esperar muito.
The Last of Us pode ser o próximo fenômeno global depois de Lost e Game of Thrones?
Após a indescritível experiência de acompanhar Lost ano após ano e a revolução que foi a chegada de Game of Thrones, eu ainda me questiono após o fim de ambas as séries: qual será o próximo fenômeno global a ser consolidado na história da TV? E com o impressionante sucesso de adaptação de The Last of Us me questiono: pode ela ser o próximo fenômeno global?
Para mim, uma série precisa atingir determinados objetivos antes de ser reconhecida como fenômeno global. Ela obviamente precisa ser popular a ponto de quase qualquer um saber do que se trata, nem que seja de forma vaga. A exibição precisa superar recordes anteriores ou pelo menos atingir números muito próximos. O lançamento precisa ser semanal com novas temporadas a cada ano, de preferência com hora marcada para a estreia do episódio. E, finalmente: é preciso espaço para a criação de teorias para engajar o público.
Lost e Game of Thrones tiveram tudo isso e muito mais. Ambas as séries representaram o maior orçamento para TV e a maior audiência global em suas épocas mais populares. No auge da exibição, também eram reconhecidas por quase todos na rua; uma como “aquela série que o avião cai na ilha” e outra como “a série dos dragões” (não é a toa que a HBO escolheu o título de A Casa do Dragão para a sucessora de Game of Thrones). E ambas permitiam aquilo que acho ainda mais fundamental para um fenômeno: criar teorias em cima de teorias a respeito do que vai acontecer na trama, episódio após episódio.
Lost mudou a forma de fazer TV com seus mistérios intrigantes, personagens repletos de carisma, orçamento elevado para a época e marketing nunca antes visto. A produção aproveitou a ainda jovem internet para compor e expandir o universo da série com sites e propagandas de organizações encontradas apenas na série, como a Hanso Foundation, e sites oficiais da Oceanic Airlines e Ajira Airways (ambos voos que caem na ilha) com pistas e enigmas.
Tudo isso fomentava a criação de teorias por espectadores de Lost a cada novo episódio. O que é a fumaça negra? Eles estão mortos? Se sim, então ilha é o inferno? O que é A Escotilha? O que é essa transmissão de 16 anos de uma francesa perdida na Ilha? Eles estão sozinhos na Ilha?
Embora Game of Thrones não tenha conseguido aproveitar a mesma estratégia de marketing do mundo real por se tratar de um universo de fantasia, seu orçamento recorde para efeitos visuais nunca antes vistos em séries de TV, o complexo mundo à sua volta e, novamente, as teorias que criávamos e o debate que cada fim de episódio gerava semana após semana foi suficiente para expandir o interesse do público a cada nova temporada. Afinal, todo mundo falava disso, quem iria ficar de fora?
E assim Lost e Game of Thrones definiram suas épocas. A primeira de 2004 a 2010. A segunda de 2011 a 2019. Já estamos em 2023 e ainda me pergunto: onde está o próximo fenômeno mundial?
Nos últimos anos, algumas séries tinham potencial para se tornar “a nova Lost” ou ganhar o título de “nova Game of Thrones”.
Westworld (HBO) teve uma primeira temporada perfeita. Seu elenco era estelar, a trama era confusa e obrigava o público a criar teorias e debater o que aconteceu no episódio e seu lançamento era semanal, o que facilita a criação de conteúdo e disseminação da série pelo boca a boca. Mas ela falhou na espera de longos dois anos por temporada (2016, 2018, 2020 e 2022) e, dadas as expectativas elevadíssimas do ano de estreia, não conseguiu manter a consistência narrativa nos anos seguintes.
House of the Dragon (HBO) se manteve em alta durante toda a primeira temporada, boa parte por se tratar de uma série derivada de Game of Thrones, mas também por mostrar uma narrativa muito interessante com grandes saltos temporais quase até o final da série. Entretanto, com a segunda temporada podendo estrear apenas em 2024, a produção pode perder o calor do momento que foi responsável por manter GoT em alta ano após ano.
Dark (Netflix) é com certeza um dos maiores potenciais desperdiçados de uma série para se tornar um novo fenômeno global. Ela possui um ano de estreia espetacular, trama fechada em ótimas três temporadas e um universo feito para ser debatido episódio após episódio. Mas ela contou com um enorme problema desde o início: o formato de exibição da Netflix.
Stranger Things é definitivamente um fenômeno global, mas o hiato de um ano entre a segunda e a terceira temporada prejudicaram a série e, novamente, continuamos com a barreira do seu formato de exibição (discorro sobre isso na próximo parágrafo). Com a quarta temporada de Stranger Things, a Netflix buscou mitigar a queda de interesse com a estreia inicial de sete episódios e, cinco semanas depois, a exibição dos dois episódios finais. Dessa forma, a Netflix confirma que sua estratégia não é viável para grandes lançamentos, mas ao mesmo tempo não dá o braço a torcer.
Uma série cuja temporada é lançada de uma só vez — ou dividida em duas, três ou quatro partes — nunca terá o mesmo impacto que uma temporada diluída a cada semana, goste você ou não. Ou a estreia passa despercebida por vários espectadores ou há um burburinho inicial sustentado por poucas semanas ou o público só tomará conhecimento depois de semanas após muito boca a boca.
Em uma série com dez episódios, são dez semanas consecutivas com a série em alta ou em crescimento a cada novo episódio, com dia e hora marcada para que todos se reúnam em frente à tela. Isso representa quase dois meses e meio para que o público possa promover a série e para que a emissora ou streaming aproveite o engajamento para continuar investindo em propaganda.
Foi isso que aconteceu com Chernobyl (HBO) e com Ruptura (Apple TV+). Lembro que eu acompanhei ambas as produções desde o início e quase não havia com quem comentar — a não ser meus pais que coloquei para acompanhar junto comigo. Mas graças à exibição semanal e à poderosa divulgação popular, ambas explodiram no fim de temporada e nas semanas seguintes.
Finalmente, voltando para o início: The Last of Us pode se tornar o próximo fenômeno global? Eu adoraria, mas acredito que não. Os motivos eu já expliquei no decorrer do texto e você agora já pode imaginar.
The Last of Us tem uma excelente história e há grandes debates a cada novo episódio, mas seu mundo não depende de grandes teorias, a trama pode já estar fechada para três temporadas e o objetivo da HBO pode ser alternar o lançamento de House of the Dragon com o de The Last of Us: uma em 2022, outra em 2023, uma em 2024, outra em 2025, e assim em diante. O hiato de um ano entre cada série pode prejudicar o crescimento de ambas as produções, mas não há dúvidas que continuarão sendo discutidas a cada nova temporada independente disso.
Embora o Apple TV+ seja um streaming “novo”, o sucesso de Ruptura pode se sustentar caso o lançamento se mantenha anual, uma vez que a plataforma estreia suas produções toda quinta-feira, às 23 horas. A série tem grande margem para teorias e já cresceu muito ainda na sua primeira temporada, mas ainda precisa quebrar a barreira de se tornar “pop” como Lost e Game of Thrones (esta segunda, vale lembrar, cujas temporadas iniciais exageravam em sexo e palavrões). Sem falar em outro grande problema: a disponibilidade do Apple TV, que até hoje não possui aplicativo para celulares e tablets Android.
Por enquanto, resta esperar para ver se a HBO será novamente detentora de um fenômeno global ou se a próxima série de sucesso internacional estará nas mãos de outra plataforma de streaming.
Para ler, ver e ouvir.
Para ler
Uma rodada de newsletter. As recomendações pessoais sobre jogos do Dan Schettini na Pictobox (que também está no querido Podcast UP junto com a Marcia, o Coelho e o Cardoso). As reflexões curtas sobre criatividade do Tiago no Tira do Papel. E os textos, as dicas, as receitas e tudo de sempre interessante que aparece no Associação dos Sem Carisma.
Para ver
Sam Smith está cada vez confiante com sua sexualidade e seu corpo, e transparece isso no ótimo clipe da viciante I’m Not Here To Make Friends. É mais empoderador do que qualquer hétero que pinte as unhas ou use vestido.
O excelente clipe de Can’t Tame Her, novo single da Zara Larsson. Torcendo que ela mantenha essa linha pop-perfection como a excelente Love Me Land — uma das músicas que definiram meu 2020 e que deveria ter muito mais reconhecimento.
Saiu a segunda parte da lista do Nautilus de melhores jogos de 2022 que você não jogou com ótimas recomendações (vou começar South of the Circle, que está incluso na assinatura do Apple Arcade). Aproveito também para recomendar a análise do Nautilus sobre Disco Elysium, responsável por me convencer a comprar o jogo no ano passado — valeu cada centavo.
Para ouvir
Gloria, o novo álbum do Sam Smith, está entre nós. Ele não abandona as baladas melancólicas que marcaram seu início de carreira, mas brinca mais com os gêneros da música que pipocam pelo álbum, seja pelo disco chique europeu de Lose You, o hyperpop de Unholy com Kim Petras ou o arrepiante coral de Gloria. O álbum conclui com Who We Love, faixa que Sam descreve como “um hino queer escrito por um amigo“, e o vocal dele e de Ed Sheeran combinam como nunca imaginaria.
Me divido entre Gloria e o eletrônico dançante de SG Lewis no novo AudioLust & HigherLove. O álbum é ótimo do começo ao fim e tem faixas viciantes como Fever Dreamer, Holding On, Another Live, Epiphany, Lifetime e Plain Sailing.
O Gorillaz vai lançar seu novo álbum Cracker Island em menos de um mês e Silent Running é o mais novo single da banda (foram cinco até agora, em um álbum com 11 faixas).
A Caroline Polachek também lançará seu álbum em fevereiro, e tivemos mais um single na madrugada de segunda para terça: Blood and Butter. Me lembra um pouco a música tema de Monkey Island.
Obrigado por ler a oitava edição da Nos Eixos. Essa foi uma publicação que gostei muito de ter escrito por tratar de um tema principal que sempre tive interesse em escrever.
Estamos muito próximos dos 100 assinantes da newsletter e estou muito contente com o rumo da Nos Eixos, então se você puder compartilhar a publicação isso com certeza já me ajudaria bastante.
Até a próxima edição!